Leitura: O despertar das sombras - Capítulo 14
- Gabriel Chico
- 28 de out. de 2016
- 8 min de leitura

Autor: Gabriel Augusto
Publicação: Outubro de 2015
Tema central: Vampiros, família, amor e suspense
Páginas: 117
Capítulo 14
- Como assim meio vampiro? – Seth perguntou intrigado.
- É uma longa história e eu não sei explicar muito bem. Digamos que eu sou uma raça muito de rara de vampiros, como os outros eu não fui mordido até a morte e renascido com presas. Eu apenas nasci como vampiro, um hibrido... meio humano e meio vampiro.
- Complicado mesmo. – Passou uma das mãos no cabelo.
- É, eu não sei qual é meu limite e o que eu posso fazer. Não conheço a mim mesmo. – Era estranho pensar que tudo que eu fora um dia, não existe mais.
- Você consegue passar por isso, estamos juntos nessa.
Peguei a mão dele e fiquei segurando por um tempo. Seria tão bom se o relógio parasse e permanece assim para sempre.
- Como eu não lembro de você ter me mordido?
- Ah. É um efeito colateral quando um humano é mordido por um vampiro, ele não lembra de nada do que aconteceu.
- Entendi.
Lentamente ele inspirou fundo e foi apoiando os cotovelos dando impulso para ficar de pé de novo. Pouco a pouco ele estava de pé, em sua esplêndida forma de garoto indestrutível.
- Está vendo porque eu tenho que me conter quando eu te beijo.
- Agora tudo faz sentido.
- Melhor irmos embora.
- Tem razão.
Fiz um curativo no pescoço de Seth para que ninguém desconfiasse de nada e subimos juntos para a torre masculina, seu quarto ficava na outra ala, longe da minha. Me deu um breve beijo e partiu para seu dormitório.
- Anda saindo muito.
- Ai! Luci estou tão feliz, que vou ignorar seus comentários.
Luci estava sentado na sacada e segurando um cigarro preto entres seus lábios rosados.
- Hum. Aposto que estava com Seth.
- Estava com ele sim e nós resolvemos.
Dei pulinhos de felicidade e me joguei na cama.
- Odeio romance. É muito démodé para o meu gosto.
- Cala boca seu chato.
Quando amanheceu, não conseguia suportar os barulhos a minha volta.
Passarinhos cantando incessantemente em cima das árvores. Passos estrondosos no corredor. E o secador de cabelo que Luci usava toda manhã, era insuportável.
-CHEGA. – Gritei. O vidro da janela trincou. – Ops.
Eu sei que deveria começar a me acostumar e eu odiava isso.
- O que foi, acordou mal-humorado hoje?
- Não enche. – Coloquei minha cabeça debaixo do travesseiro.
E aquele cheiro horrível de laque, para deixar o topete de Luci em pé.
- Você realmente tem que passar isso?
- Alguns se preocupam com a aparência, mais do que outros. – Pegou sua bolsa e saiu rebolando para fora do quarto.
Ótimo paz. Fui ao banheiro liguei o chuveiro e a água quente parecia machucar minha pele, fui obrigado a tomar banho gelado e mesmo assim podia contar cada gota que caia sobre minhas costas.
Aprontei-me e desci para ter aula.
Esperei encontrar Seth no hall de entrada, só que ele não estava mais lá.
Ignorei. Ele provavelmente foi para aula mais cedo.
- Alex amigo. – Can apareceu do nada. – Eu acho que tem alguma coisa de errado com Seth, ele tá rolando feito louco na cama e não quer que eu chame ninguém se não ele me bate.
Era a cara de Seth sofrer em silêncio.
- Me leve até ele.
Corri escada acima deixando Can ir na frente.
- Mano! Chamei o seu amor, pelo menos você ouve ele. – Quando chegamos, Seth estava segurando a barriga como se ela fosse cair.
- Tudo bem Can, eu cuido dele. – Dei um sorriso para ele e ele foi embora.
- Alex eu não sei o que está acontecendo comigo.
- Calma. Calma. – Sentei na cama ao lado dele.
- Eu escuto coisa que eu não deveria ouvir. Esquilos grunhindo nas árvores, vozes e risos de pessoas que estão no primeiro andar. Consigo sentir o sol penetrando na minha pele, sinto todas as minhas moléculas se moverem.
Meu estômago embrulhou e os pelos da minha nuca se arrepiaram.
- Meu Deus... Meu Deus, será que você está se transformado em um vampiro.
Seus olhos petrificaram em pavor.
- Não Alexander, eu não posso me transformar em um vampiro. Não posso!
- Vamos pensar. – Coloquei as mãos na cabeça. – A primeira vez que te mordi, você sentiu isso?
- Não, só acordei muito zonzo e confuso, mas nada desse tipo.
- Você não sabe o que é?
- Não, eu não sei. – Não sei quem estava mais assustado, eu ou Seth.
- Como não sabe, você é um vampiro ou quase um sei lá. Você deveria saber. – A voz áspera de Seth me deixou irritado.
- Por que você está gritando comigo? Não tenho obrigação de saber tudo, isso é tão novo para mim, quanto para você.
Ele abaixou a cabeça.
- Desculpa, só estou nervoso.
- Estamos nervosos, mas não adianta nada você descontar em mim. Vamos manter a calma e tentar resolver.
- Foi mal. – Ele me abraçou.
Só a ideia de ter transformado nós dois em vampiros me deixava horrorizado. Precisava falar com os meus pais, eles sim deveriam entender sobre essas coisas.
- Devemos falar com meus pais.
- Não! Isso não, me recuso.
- Olha só Seth Gremory, não tem nenhum livro sobre esse tipo de coisa e nem pesquisa em site gótico de vampiros explica sobre isso, acredite eu já tentei quando te mordi pela primeira vez. – Ele me olhou assustado. – Não me olhe assim, eu tinha entrado em pânico.
- Desculpa.
- Para de pedir desculpa. – Agora quem estava gritando era eu.
Ficamos quietos por alguns instantes. Até que os dois se renderam.
- Ok. Por mais que eu odeie vamos falar com seus pais. – Ele me deu um beijo carinhoso. – Vai dar tudo certo no final, sei que vai.
A hora que eu cheguei com Seth no apartamento dos meus pais, os dois se estavam sentados no sofá. Minha mãe lendo um livro com uma xicara de chá de gengibre com limão, seu preferido e meu pai estava com uma pilha de provas no seu lado corrigindo-as. Eles se entreolharam, já desconfiando do que viria.
Expliquei tudo o que aconteceu. Falei dá nossa briga antes das férias e da nossa reconciliação de ontem. Os dois apertaram os olhos em fúria, mas não disseram nada até eu terminar. Quando terminei, meu pai levantou do seu aconchego e começou a disparar sermões e berros. Pensei que meu pai iria me dar uns tapas, pela cara que ele estava. Nunca vira ele tão bravo em toda minha vida. Seus olhos poderiam derreter aço e seus punhos cerrados poderiam quebrar a parede mais maciça.
Minha mãe pôs a mão sobre o ombro dele.
- Anton, calma. – Disse ela serena. Mas em seus olhos podia ver desaprovação pela minha atitude. – Concordo com tudo o que você disse, e estou decepcionada com o Alexander, você sabia dos perigos e mesmo assim o fez.
- Mas mãe eu não sabia ao certo, vocês nunca me disseram o que aconteceria se eu mordesse Seth de novo, eu não o matei. Ou o matei?
- Por pouco Alexander Shener, por pouco. – Meu Pai disse.
- Vocês deveriam me contar mais sobre tudo. Sobre o meu nascimento, sobre meus poderes. Eu estaria mais preparado para o que pudesse vir.
Seth estava de pé ao meu lado ouvindo a discussão em família e com cara de perdido.
- Não tínhamos um manual de como criar seu bebê vampiro. Vocês são poucos no mundo e demoram de nascer, o nascimento de vocês é muito raro. Tudo para gente era novo também. – Disse meu pai
- Vamos chamar a Sra. Barban, ela sabe o que fazer nesse momento. – Minha mãe se intrometeu.
- Não. Ela não. – Contestei
- Você não está no direito de querer alguma coisa mocinho. – Praguejou minha mãe. – Ela sabe muito sobre tudo, deve saber o que está acontecendo com Seth.
- Sr. e Sra. Shener... – Começou Seth.
- ... não quero ouvir sua voz rapaz, vamos ter uma longa conversa depois. – Disse meu pai com ódio nos olhos.
Seth de imediato calou-se.
- Vou chamar Sra. Barban, fique aqui com sua mãe e tente não morde-lo de novo.
Ficou os três calados e emburrados sentado no sofá cinza aveludado.
O que Sra. Barban iria fazer? Expulsar Seth ou Mata-lo? Não queria nem pensar nisso.
Minutos depois pude ouvir passos subindo as escadas e o claque, claque dos sapatos altos de Sra. Barban. E pelo jeito que Seth segurou minha mão, eu não era o único que podia ouvi-la.
Ela entrou com seu ar de superior, como se comandasse lugar. Com seu longo vestido preto e um colar de pérolas no seu pescoço esguio.
- Porque eu não estou surpresa em te ver de novo em uma situação de descontrole, em Sr. Shener? – Ela disse com um toque de desdém e sarcasmo.
- A culpa foi minha. – Disse Seth.
- Como é cavaleiro Sr. Gremory, mas sabemos que a grande culpa é a dos maus modos do Sr. Shener. – Suas mãos se entrelaçaram e ela nos observou. – Era provável que isso iria acontecer, deveria ter impedido antes.
- Foi um acidente. – Falei com voz de choro. – E agora Seth vai se transformar em um vampiro.
- Acidentes não acontecem, quando duas pessoas têm os mesmos objetivos. – Disse ela. – E recomponha-se Sr. Shener, Seth não é um vampiro ainda.
- Como assim ainda? – Seth apertou minha mão mais forte.
Ela se aproximou dele, e abaixou a gola de sua blusa. Minha vontade foi de dar um tapa na mão dela, porém me contive.
- Sr. Gremory, o senhor está marcado.
- Igual ao Alex?
- Podemos se dizer que sim, no início as mudanças vão ser pequenas... imperceptíveis. – Ela começou a andar pela sala com elegância, como se ela estivesse flutuando. – Posso sentir agora, mas só porque eu sei o que está acontecendo. No entanto, as mudanças vão aumentar, até que todos os vampiros possam também perceber e no final será impossível ignorar. O senhor deixou-se a mercê de outro vampiro, você está entre o abismo e a salvação... aponto de se tornar um de nós.
- Então a minha transformação irá acontecer queira eu ou queira não?
- Não precisa ser assim. – Agora ela parou de andar e fixou o olhar em nós dois. – Se o senhor quiser pode viver até os oitenta anos no máximo e morrer de causas naturais, se é isso que quer. Mas com o passar do tempo, logo vai se sentir mais e mais atraído pelo Sr. Shener, puro desejo e amor, embora que outros vampiros ficaram afim do senhor, porém o tabu contra morder a presa de outro vampiro devera protege-lo. E quando chegar no fim de tudo, Sr. Gremory ficará fissurado e fascinado por ele. – Apontou para mim. – E o mesmo acontecera com Sr. Shener, um tipo de fervor que nenhum humano poderia aguentar, até que os dois sucumbirá a vida eterna.
Pensei que Seth iria perder a calma, mas ele manteve a pose.
- Isso significa que eu sou igual a Alex?
- Parecido... não idênticos. – Ela colocou as mãos em suas têmporas. – Não era isso que eu queria quando deixei humanos entrarem na Noite Eterna. Irei te ajudar Sr. Gremory te darei cartas antigas, pesquisas e relatórios, sobre pessoas que estiveram no mesmo lugar que o senhor.
Meus pais se olharam. E vi surpresa em seus olhares.
- Agora Sr. Gremory. Nosso segredo é o seu segredo, se trair a nós, trairá a si mesmo.
- Não direi nada a ninguém sobre a existência de vampiros. – Ele apertou minha mão e senti a tensão vindo dele.
Sra. Barban deu um sorriso maléfico e foi embora. Depois dos meus pais darem mais sermões a mim e a Seth, partimos para a sala de aula. Sem falar nenhuma palavra apenas de mãos dadas em silêncio.
Seth estava tão sereno que me deixava com medo, o que será que passava na cabeça dele? Será que ele vai aceitar seu destino, assim como eu aceitei o meu?
Perguntas sem resposta...
Acompanhe o livro:
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Epílogo
Anexos
Origem dos personagens
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