Leitura: O despertar das sombras - Capítulo 01
- Gabriel Chico
- 29 de jul. de 2016
- 7 min de leitura

Autor: Gabriel Augusto
Publicação: Outubro de 2015
Tema central: Vampiros, família, amor e suspense
Páginas: 117
Capítulo 01
09 de fevereiro.
Meu primeiro dia de aula e minha última chance de fugir.
Não tinha arquitetado um plano infalível. Tipo aqueles planos de filmes dramáticos barra românticos onde a garota foge pela janela segurando – se em um emaranhado de lençóis para encontrar com o seu namorado perfeito. A única coisa que estava levando na minha fuga era apenas uma mochila com um pouco de dinheiro, uma escova de dente azul, uma trouxa de roupa e meu celular.
Nasci e cresci em uma cidade pequena onde tinha os mesmos amigos e as mesmas pessoas ao meu redor. Eu queria que permanecesse assim. Pessoas que me conheciam e gostavam de mim do jeito que eu sou. Então imagine minha reação quando meus pais decidiram trabalhar e morar na Escola Noite Eterna. Não queria bancar o garoto mimado de 17 anos, apenas queria viver minha vida do jeito que ela era, é pedir demais? Mas o Sr. e a Sra. Shener não são fáceis de convencer, além do mais, os dois eram professores.
Vesti uma T-shirts branca e meu cardigã cinza de linha e minha calça jeans escura. Dessa vez fiz questão de arrumar o quarto, coisa que eu não era acostumada a fazer, mas hoje me senti na obrigação de ajeita-lo como se fosse um pedido desculpas pelo o que eu iria fazer com os meus pais. Eles ficariam assustado quando aquele despertador barulhento os acordassem daqui três horas. Claro que isso não iria fazer a menor diferença para eles, mas decidi ir em frente. Enquanto eu organizava os ursinhos de pelúcia na cama, veio um vislumbre quase que instantâneo sobre o sonho que eu tivera na noite passada, tão real e tão forte que acordei sem ar.
Eu estava na floresta. Quando me deparei com uma rosa azul, mas não um tom de azul qualquer, era um azul que deixaria o céu com inveja e o mar se agitaria em fúria ao ver a cor dessa rosa. Eu queria ela, eu precisava dela. Estava indo em sua direção quando algo se moveu. Por um momento pensei que era a rosa. Mas na verdade era os galhos de espinhos que estavam a sua volta, quando tentei toca-la os galhos se curvaram contra mim como um aviso para eu não me aproximar, igual uma cobra quando ela se sente ameaçada. Mas eu precisava daquela flor.
Por que lembrar daquele pesadelo sinistro me causava arrepios? Era só um sonho, uma coisa que eu não deveria me preocupar. Então respirei fundo e tomei coragem. Bem era hora de partir. Na verdade, eu não queria sumir realmente. Como assumir uma nova identidade e viver em uma cidade que não está nem localizada no mapa e me ajuntar a um bando de hippie que sobrevive dos frutos da terra. Só estava deixando a minha opinião bem clara.
Com a bolsa nas costas e ficando nas pontas do pé sem fazer o mínimo de barulho possível, percorri o pequeno apartamento feito para os professores morar em quanto permaneciam na escola. E fui em direção a saída, passei pelo quarto dos meus pais e percebi meu pai estava roncando como de costume. Girei devagar a maçaneta e desci escada abaixo. Morávamos em uma das torres da Noite Eterna. O que é chato, se você parar para pensar que você teria que descer todas essas escadas feitas a séculos atrás, período suficiente para desgasta-las e deixa-las irregulares. O longo corredor de escadas tinha pouca iluminação e pouca luz atravessava as janelas redondas e pequenas.
Cheguei ao térreo. Um espaço gigante, imponente. Aposto que foi construído para impressionar quem o visse: o piso de mármore, com um imenso teto em arcos e grandes vitrais góticos coloridos, exceto um que era de vidro incolor. Os preparativos para recepção dos alunos foram feitos na noite anterior, por que havia um palco pronto para diretora desejar boas-vindas a eles. Puxei a monstruosa porta pesada e me deparei com o gramado da Escola.
O ar estava denso impossibilitando de enxergar além de dois passos a minha frente. Quando a Noite Eterna fora construída em meio a floresta era uma área selvagem, mas agora tinha vilarejos em toda região, mas nenhum perto do prédio. Olhei ao meu redor encarando as gárgulas penduradas nas torres, elas tinham umas faces estranhas e arruinadas pelo tempo. Os seus olhos de pedras me encarravam com um olhar de reprovação, que me deixou com um arrepio na espinha. Mas alguns passos e a névoa não me permitia mais enxergar nada.
A Noite Eterna erguia-se majestosamente e ameaçadora atrás de mim, os muros de pedras maciças de suas altas torres eram a única barreira que os espinhos não podiam tocar. Eu deveria correr para ela, mas não o fiz. Não iria desistir da rosa.
Meu pesadelo estava começando a aparecer mais real que a realidade. Nervoso, dei as costas para a escola e comecei a correr. Deixando o gramado para trás e desaparecendo floresta adentro.
Isso vai acabar. Pensei comigo enquanto partia em disparada para dentro da floresta, pisando nos galhos e deixando as folhas tocarem meu rosto. Meus pais logo vão acordar e perceber que eu não estou mais lá. Eles finalmente irão entender que não consigo viver naquele lugar detestável. E então tudo vai voltar ao normal. Voltaremos para nossa verdadeira casa e viveremos felizes. Eles iriam entender não é mesmo?
Quanto mais me afastava da Noite Eterna, mais forte meu coração batia. Eu deveria estar menos apavorado e não mais. Na hora que eu planejava essa fuga, parecia uma ideia boa, do tipo que não vai ter falhas. Mas agora era real, estava sozinho correndo em um lugar que eu mal conhecia. Talvez essa foi a pior ideia de todas.
O céu se voltou contra mim, trovões ensurdecedores soaram acima de mim. Pela última vez olhei para flor de azul profundo. O vento estava forte arrancando com violência algumas pétalas de rosa. Contra a vontade dos espinhos, lutei para alcançar a flor. Senti minha pele rasgar e em seguida latejar, mas continuei decidido a toca-la.
Porém, quando a ponta do meu dedo se aproximou da rosa azul, rapidamente ela tornou – se escura sem vida, murchando perdendo sua beleza exuberante. Até que cada pétala não tinha mais brilho algum.
Eu corria cada vez mais, para me afastar da Noite Eterna, me afastar do pesadelo. Aquele lugar estava me deixando louco, apavorado e angustiado. Se eu conseguisse sair daqui tudo ficaria bem. Não ficaria? Só queria sair dali.
Com o coração pulando para fora da garganta, olhei por de trás de mim para ver o quão longe me distanciara da escola. Então eu o vi.
Havia um homem na floresta, não dava para enxergar muito bem por causa do nevoeiro. Mas ele estava correndo na minha direção. Até aquele momento eu não conhecera o verdadeiro medo. Um pavor imenso correu pelas minhas veias. Eu precisava correr o mais veloz possível. Nunca pensei que poderia correr tão rápido. Eu não gritei, afinal, do que adiantaria? Eu não estava mais aguentando. Podia ouvir seus passos chegando perto dos meus. Como alguém poderia correr desse jeito?
- Ai! – Gritei quando nossos corpos colidiram no chão. O chão estava frio e molhado e o corpo pesado dele continuava prensado ao meu e sua mão tampando minha boca. Eu precisava sair de perto dele, mas ele era mais forte que eu. Estava com tanto medo que minha mente bloqueou, não conseguia pensar em nada, nem em me defender. Sempre pensei que poderia fazer alguma coisa quando alguém me atacasse. Mas o medo paralisa nosso corpo e mente. E o que nos resta a fazer neste momento de total terror?
E de repente, ele sussurrou no meu ouvido:
- Você está bem?
Por alguns segundos eu fiquei sem saber o que fazer. Finalmente tomei coragem de responder.
- Ficaria melhor se você não tivesse me perseguido pela floresta feito um lunático. – Estava sem folego. – E ficaria ainda melhor se você não tivesse se jogado em cima de mim. Qual é o seu problema?
- Só queria devolver a sua bolsa. – Ele virou meu corpo e nossos rostos ficaram bem próximos.
Fiquei envergonhado. Não tinha percebido que minha bolsa cairá no chão. Estava tão apavorado com tudo e com o pesadelo invadindo minha mente, nem notei que tinha perdido ela.
- Você estava tentando devolver minha bolsa? – Nossa que vergonha, não sabia onde enfiar a cara.
- Espera... você realmente pensou que eu queria te fazer algo de mal? – Seu rosto estava colado ao meu e continuávamos no chão. – Meu Deus! Me desculpa.
Como eu fiquei aliviado! Meu coração parou de querer sair do meu corpo e não estava me sentindo com tanta tontura. Olhei direito para ele e agora que ele não parecia um maníaco da floresta, conseguia vê-lo como ele é realmente. Alto e com a pele pálida, com olhos negros como o breu, seus cabelos castanhos avermelhados bagunçados de um jeito arrumado, com folhas e sementes pendurados em alguns fios de cabelos e um corpo não igual aos modelos da capa da vogue mens, mas com um corpo definido magro, porém, forte. Admito, tinha um certo charme.
- Não, está tudo bem. Mas poderíamos levantar do chão frio? – Ele ficou corado quando percebeu que continuava em cima de mim com nossas faces colada uma na outra.
Ele levantou-se primeiro e me ofereceu ajuda. Peguei sua mão e senti um calafrio que percorreu pelo meu corpo todo, e lá estávamos nós, agora de pé um encarando o outro tentando entender o que tinha acabado de acontecer.
Ele começou falando.
- O que você está fazendo na floresta esse horário, tão cedo?
- Para ser sincero estava tentando fugir da minha nova vida.
Ele olhou assustado tentando entender a situação. Então continuei explicando.
- Me mudei faz pouco tempo para Escola Noite Eterna, meus pais são professores e eu não tive escolha. Por fim, bolei um plano para mostrar minha opinião clara e definitiva que agora percebo que não vai adiantar nada.
- Ainda bem que eu te encontrei e impedi de você fazer uma bobagem maior. Me disseram que a Noite Eterna não é, tão ruim assim, meus ancestrais estudaram aqui a 150 anos atrás, e agora é minha vez de estudar lá.
Parece que a estadia naquele lugar horrível, pode ser até legal. – A voz na minha cabeça sussurrava. E por um momento pensei que ele poderia ler minha mente.
- Assim espero. Ah! Meu nome é Alexander Shener, mas todos me chamam de Alex.
Ele fez uma reverência e disse:
- Prazer Sr. Shener. Meu nome é Seth Gremory e você poderia desistir do seu plano louco, e me perdoe em dizer, mas um plano que não daria certo e seus pais também não teriam a atitude que você imagina. Me acompanha de volta para Escola?
- Já que você foi tão educado. Claro que sim.
Caminhamos entre os galhos molhados um do lado do outro, e minha mente não parava de pensar.
Talvez... só talvez estudar nessa escola horrenda não seja tão ruim.
Acompanhe o livro:
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Epílogo
Anexos
Origem dos personagens
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