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Leitura: Proteja seu Coração - Epílogo

  • Gabriel Chico
  • 31 de out. de 2016
  • 6 min de leitura

A teoria de tudo

Autor: Sabrina de Ferreira


Publicação: Janeiro de 2016


Tema central: Drama, ação, filho adotivo e hospital


Páginas: 37


Epílogo


Passaram-se quinze dias após a descoberta na morte de Ishmael Adias ao ver de Emanuel Meeiras. Era o dia de receber alta no hospital Albert Klein e Christopher Depp, junto de Annabeph Cartelano, mãe do filho de Ishmael, não mediram esforços para ajudá-lo em tudo que fosse necessário. Nos primeiros dias, Emanuel não quis contato com ninguém que soubesse sobre a morte de Ishmael, ou sobre a motivação de querer tal ato, e que não o tenha impedido ou lhe contado a tempo – incluindo então, Christopher, Bandeiras e Annabeph.

Mas o tempo passou e Emanuel chegou ao momento em que deveria sair do hospital e entrar em sua casa para poder, enfim, ter o luto que precisava. Christopher levou-o de carro, não houve conversas. Annabeph sentiu a necessidade de falar algo, então puxou alguns diálogos que, para Meeiras, sempre resultava no nome de seu filho falecido. Constantemente, após ele citar o nome de Ishmael, a conversa acabava e Cartelano botava-se a pensar em algo novo, qualquer assunto era válido para ela. Depp, por sua vez, já parando em frente à casa de Emanuel, sabia que não havia motivos para palavras jogadas ao vento. Todos estavam sentindo o mesmo vazio – até mesmo Anna, que carregava uma criança no ventre.

– Quer que entremos com você? – perguntou Annabeph, quando o carro de Chris parou em frente à portaria.

– Não é necessário. – ele respondeu cabisbaixo.

Mesmo com sua ordem, todos desceram no automóvel somente para ajudar com as malas de roupas e acessórios dele. Enquanto Cartelano observava as malas e ponderar em qual seria a mais leve para levar, Meeiras sussurrou em seu ouvido “Qual nome pensa em dar a ele?”, a pergunta a pegou de surpresa. Mas recordando-se de um passado não muito distante com o pai de seu futuro filho, Annabeph lembrou se de uma das conversas que teve com ele, a qual Ishmael dissertava “Se for homem, vai ser Emanuel; se for mulher, Ellen, o nome da minha falecida mãe.”. Eles estavam no quarto de hotel de Anna e apenas jogam as vento diálogos sobre uma criança, que agora ele não iria conhecer.

– Um dia ­– começou Cartelano. – Ish me pediu para que fosse Emanuel ou Ellen. Quero que seja um desses então.

– Espero que seja Ellen. – confessou Meeiras, quase derrubando sua primeira lágrima.

– Vamos? – indagou Christopher, um pouco mais longe, perto da portaria.

Meeiras não queria companhia, dispensou-os educadamente, pegou uma mala com sua mão esquerda e com a direita pegou a mais leve. Adentrou dando adeus a ambos, mas antes que Depp entrasse no carro, ele ordenou “Cuide dela como Ishmael o faria.”. Os olhos de Christopher, por um segundo, pareciam querer chorar, mas, no fim, sorriram e ele assentiu com a cabeça o combinado de cuidar do futuro filho de Annabeph – que mais tarde, após exames médicos, foi descoberto que seria “Ellen”, uma garota saudável.

Emanuel entrou, sem falar com o porteiro ou com qualquer outra pessoa que conhecesse e sentisse falta. Seu quarto era no terceiro andar, então se apressou para pegar o elevador, que subia com uma jovem grávida e um noivo feliz ao seu lado. Seu quarto não era muito longe de onde o elevador o deixava. De certo modo, ele sentia saudades de fazer aquele mesmo caminho diariamente, depois de um dia cansativo de trabalho dentro da delegacia, onde quase constantemente seu filho estava, metendo-se sempre em más condições.

Meeiras notou que seus móveis e utensílios, após deixar a mala na entrada, não eram mais os mesmos, pareciam estar sem vida, como ele encontrava-se agora. Embora bastante desolado, Emanuel não se limitou em andar até a sua escrivaninha ao reparar uma carta acima. Destinada a seu nome, por pouco não perdeu seu equilíbrio e abriu um berreiro ao ver o nome de seu filho falecido, Ishmael Adias. Abriu-a e leu-a imediatamente, sem mesmo preparar o seu psicológico.


“Emanuel Meeiras,

Ainda que eu não tenha o costume de chamá-lo de pai, quero fazer isso agora... Pai. Escrevo essa carta para que entenda que nem tudo foi em vão. Eu sei que meu sonho de tornar-me escritor, sempre mexeu com seu jeito policial arrogante e o deixava impaciente, mas embora tudo isso, decidi escrever agora, uma última vez.

Foram anos tentando ser o melhor filho, foram anos jogados fora. Creio que o senhor nunca irá notar o quanto é especial para mim, pelo simples motivo de ter me tirado de um lugar frio e desolador, para me trazer para dentro de seu conforto, sua casa, para me chamar de filho – coisa que nunca fez, mas, ainda assim, me sinto como um. Ellen, que Deus a tenha, sempre foi a melhor mãe do mundo pelo único ano em que eu a tive. Saber que vou revê-la agora é excelente.

Pode não entender meus motivos ou me achar louco, porém eu sempre estivesse cansado de ver o senhor sofrer por um mau coração em seu peito. Dores, idas e vindas a um hospital, seu nome em uma lista de espera interminável. Eu sentia que seu tempo estava acabando, mas, mesmo assim, você parecia querer esperar tudo sentado. Sentir meu coração batendo e o seu em estalos lentos, quase parando, era desumano. Por isso eu fiz o que fiz, por isso eu decidi dar o melhor a você.

Quero que saiba, pois acho importante, que não foi a minha primeira escolha dar o púnico coração que eu tenho a você. Procurei, legalmente, em hospitais e funerárias; depois ilegalmente, em comunidades como Du Vun e tráficos de órgãos por todo o mundo. Quando consegui um, o policial Figueira me achou. Sempre sendo pego, eu não sou um marginal, e quero que saiba disso e não duvide. Constantemente sentado em frente a sua mesa para dar depoimentos, eram somente por que eu queria vê-lo melhor de novo. Eu sou um péssimo filho – ou um péssimo ladrão.

A última escolha acabou se tornando a primeira. Com você no hospital, mesmo tendo Christopher ao pé de meu ouvido sempre pedindo mais tempo ou mais calma, eu optei em te dar a minha vida, literalmente. Eu amo você. Você é meu pai, mesmo não sendo o progenitor, é meu pai. Isso não vai mudar, uma vez que eu quero que o senhor olhe-se no espelho e veja o pai de Ishmael, falecido ou não.

Caso não tenha dado certo, caso Christopher não tenha achado um advogado bom e meu coração tenha parado de bater antes da cirurgia. Espero então encontrá-lo novamente o mais rápido possível; se não, espero encontrá-lo o mais devagar possível. Quero que tenha uma vida plena e que cuide de Annabeph como eu cuidei. E Depp, diga a ele que eu nunca tive amigo melhor, mesmo eu tendo feito a escolha errada ao ver dele, ele me ajudou e isso basta para eu agradecê-lo eternamente por tudo.

E pai, proteja o meu e o nosso coração. Proteja seu coração.

Com amor, seu filho adotivo, Ish.”.


As mãos de Emanuel tremiam inconsolavelmente, seus olhos traziam as mais tristes lágrimas que ele possuía. Nunca havia sido assim. Andando sem rumo por todos os cômodos, passou, involuntariamente, na frente do quarto temporário de seu único filho. Adentrou, com a carta ainda na mão, sentindo que o mundo poderia acabar naquele instante, que nada para ele iria mudar. Sentou-se na beira da cama com um lençol marrom velho, e observou todos os detalhes que nunca havia parado antes para tentar entender como a mente de seu filho funcionava.

Querendo ou não, mesmo com mais de vinte anos de idade, Ishmael ainda era considerado um adolescente em crise para Meeiras, o que não facilitava em nada a convivência entre eles. Sua mão grossa com dedos compridos passou por toda a mobília do lado da cama. Papeis com músicas escritas, histórias sem um final, rascunho de desenhos e CDs, muito CDs. O seu favorito era do The Project Eden, que agora é agora Eden. Suas músicas favoritas ele sabia de cabeça, por ouvir sempre seu filho cantar. Seu filho... Era bom pensar em Ishmael Adias pensando em “seu filho”.

Deitando-se na cama lentamente, Meeiras pôs a música que mais se lembrava na letra para tocar. Nocturne tinha uma letra um tanto peculiar para ele. Recordava-se realmente de seu filho, o fato de ele ter pensando em algo e feito de tal modo, sem pensar se seria o certo, pois, pelo menos, por um instante, quis sentir vivo fazendo algo por alguém, mesmo que para sentir vivo, ele teria de morrer. Pensando isso, Emanuel fechou os olhos, segurando a carta com força com a mão esquerda, e com a direita ele tocou seu coração, ouvindo a música começar rapidamente.

“So I've been thinking about something/Lately I've been alive/cos I found my reason in nothing/so I won’t close my eyes/because I don’t want to miss one second/and I don’t want to feel so cold/and I don’t want to be so sad that we are Who we are/because we had no control/But only by the night/Will we ever make headlines/Will we ever make things right/when we've only ourselves to blame (x2)/So I won't sleep/no more/no I won't sleep/no more/I won't sleep/no more.” (Tradução: “Então, eu estive pensando sobre algo/ultimamente eu estive vivo/por que eu encontrei minha razão em nada/então eu não vou fechar meus olhos/porque eu não quero perder um segundo/E eu não quero sentir tão frio/E eu não quero ser tão triste como quem somos/porque não tínhamos controle/Mas apenas por essa noite/será que vamos fazer manchetes/será que vamos fazer as coisas direito/quando temos apenas nós mesmos para culpar (x2)/Então eu não vou dormir/não mais/não, eu não vou dormir/não mais/Eu não vou dormir/não mais.”).

No mesmo tempo em que a música tocava, seu coração batia feliz. Ishmael deveria estar feliz, pensou ele.

Acompanhe o livro:

Agradecimentos e Esclarecimentos

Capítulo I

Capítulo II

Capítulo III

Capítulo IV

Capítulo V

Capítulo VI

Capítulo VII

Capítulo VIII

Epílogo

 

Baixe o texto em pdf: clique aqui.

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