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Leitura: Proteja seu Coração - VIII

  • Gabriel Chico
  • 24 de out. de 2016
  • 5 min de leitura

A teoria de tudo

Autor: Sabrina de Ferreira


Publicação: Janeiro de 2016


Tema central: Drama, ação, filho adotivo e hospital


Páginas: 37


VIII


“Você precisa fazer isso!”, urrou Christopher.

“Como um doutor, eu acho que...”.

“Não! Não me diga nada, o coração de Ishmael é forte o suficiente para aguentar a notícia.”

“O coração do Senhor Meeiras, não?”

“Também...”

Não houve muito diálogo após esta ligação. Bandeiras foi forçado a conversar com Emanuel sobre o infeliz doador, que ele tanto não quer descobrir. Ele poderia descobrir tudo de uma maneira mais calma, com alguém que ele realmente amasse ao lado na hora de receber a notícia. Pela primeira vez, a compaixão fez bater o coração de Bandeiras mais rápido, pela primeira vez, ele pensou em outras pessoas antes de si, como um bom médico local. Dentro do quarto no hospital, observando Meeiras cair lentamente em um sono não muito profundo, pensou em como dizer tudo. Bandeiras nunca tive tato para esse tipo de coisa, mesmo tendo boas intenções nesse momento, ele sentia que iria ocasionar problemas.

O imenso silêncio emundou a sala, Meeiras parecia não sentir, mas Bandeiras estava afogando-se nele. Com os olhos quase se fechando, Emanuel imaginou que ele tivesse algo para falar; pensando certo, Bandeiras começou em gaguejos:

– Senhor, sei que está querendo ter um bom momento de repouso, mas é importante o que tenho a dizer.

– Prossiga. Eu vou ficar bem?

– Sim, irá. – distanciou-se de Meeiras, pois não quis olhar em seus olhos sonolentos. Virou para a porta, encarando-a, tentando criar coragem. – Não é sobre o senhor em particular, não. – acrescentou um pouco hesitado, sem ouvir resposta de Emanuel, prosseguiu. – Bom... Vejamos rápidos, o nome do doador do seu coração para o transplante é Ishmael Adias, eu sinto muito. – toda a sua fala saiu como um rasgo no silêncio que se procriava. Sem respostas, ele tentou acalmar o coração de Meeiras, ainda de costas. – Sinto muito, de verdade. Mas veja pelo lado bom, o senhor terá...

Ao virar para olhos o rosto de Emanuel, encontrou-o completamente imóvel. De olhos fechados e em um sono profundo. Por um instante, Bandeiras teve a sensação de dizer que ele sabia desde o início de que Deus não o daria essa fardo no peito em dizer a um paciente que seu filho morreu. Isso nunca o aconteceu e ele queria, definitivamente, que nunca ocorreu por um bom momento em seu histórico. Já de outro ângulo, imaginou como seria a reação de Christopher Depp e a namorada do falecido ao vivenciar a realidade de que não será o doutor o mensageiro.

Já dentro do carro de Depp, vendo a angustia de Annabeph e o sinal finalmente abrindo, dando passagem a todos, o único som que reinava dentro do veículo era o silêncio. O trânsito estava livre e por um momento Chris pensou em voltar ao Albert Klein, o hospital onde está internado o pai de Ishmael, para poder ver a reação do mesmo quanto a toda a notícia, sem contar que ele também daria seu ombro para que ele pudesse usá-lo como bem entendesse. Annabeph Cartelano, mãe do futuro neto de Meeiras, permanecia com seus joelhos tremendo de ansiedade para saber como ele recebeu a notícia.

Algumas horas de passaram e o novo coração de Emanuel parecia forte o suficiente para aguentar qualquer coisa, pelo menos foi esse o seu pensamento quando acordou de um sono profundo, que há anos não tinha. Meeiras lembrou-se de que o Doutor Bandeiras queria lhe dizer algo, mas o que? Sua cabeça girou e logo em seguida as ideias de foram, não queria pensar que pudesse ser algo ruim. Estava vivo e respirando, agora a única coisa que faltava era rever seu único filho. Imaginou consigo tudo o que ele superou no passado, todas as brigas e diferenças que cresciam entre eles, agora as situações tomariam um novo curso – ao menos esse era o seu principal pensamento.

Uma enfermeira adentrou o local, dando bom dia ao paciente com seu novo coração. Emanuel respondeu-lhe sorridente um bom dia ainda mais feliz. A jovem havia adentrado para trazer-lhe refeição sem sal, típica de um hospital. “O senhor deve estar bastante triste, mas esperou que tudo se resolva.”, sorriu ela, pondo o alimento em cima da pequena mesa.

– Por que eu estaria triste? – perguntou Meeiras, tendo a impressão de que a enfermeira estaria trocando os pacientes, seriam tantos que ela poderia cruzar uma história com outra com facilidade.

– Seu filho. – seu rosto se fechou. – Imagino como seja perder um em uma situação tão drástica, mesmo sendo heroica. Sou mãe de primeira viagem e não imagino como seria a minha reação ao saber que o meu fez um ato desses.

– Do que está falando? – o coração de Emanuel bateu mais forte do que nunca. A enfermeira não o olhava nos olhos em momento algum, sempre ajeitando a comida, sem notar a entonação de desentendimento na voz de Meeiras.

– Ishmael Adias é seu filho, não? – tentou não se confundir. – Só se fala no heroico Adias pelas bocas dos enfermeiros e médicos de Albert Klein. Doar seu coração, dando-lhe a vida junto, a seu pai é realmente um belo ato de amor. – o sorriso triste invadiu a boca da dama.

Emanuel Meeiras tentou, mas a emoção subiu à cabeça. Seu chão saiu debaixo dele, a primeira lágrima caiu, fazendo com que a enfermeira perceba o erro que cometeu ao tocar num assunto ainda não falado a ele. Ela arrependeu-se profundamente, sem dizer mais nenhuma palavra, apenas um “sinto muito”, porém para ele não havia o que fazer. Emanuel ameaçou levantar da maca do hospital e, embora a enfermeira o impossibilitasse, a carência de consolação estava inegável.

– Não pode ser. – exclamou Emanuel sentado à beira da maca.

– Eu sinto mu...

– Tira de mim! – exigiu Meeiras num sussurro. – Devolve para ele... – a sua mão direita tocou o lugar onde estava seu coração, ele o apertou sentindo os batimentos de Ishmael dentro de si. As lágrimas solitárias agora traziam amigas para o fundo do poço que Meeiras deixava seguir.

A enfermeira saiu do quarto, pedindo ajuda e sentindo-se mais culpada do que nunca. Meeiras saiu junto a ela, sem a pobre dama notar, ele ajoelhou-se do lado de fora. Todos o olhavam como a um triste animal que perdeu sua cria na pior maneira possível. Todos sabiam o que seu filho havia feito para ele, somente o próprio era o leigo. O seu queixo tremia e seu coração batia cada vez mais forte. Sem família praticamente, Emanuel apertava seu peito com força. Começou a bater no local onde os batimentos cardíacos ocorriam e gritou inúmeras vezes:

– Devolve para ele! – soluçou. – Tira de mim! Tirem agora!

Bandeiras chegou a tempo. Pela primeira vez sua empatia gritou ainda mais alto do que nunca antes, ajoelhou-se junto de Meeiras e sussurrou que sentia muito, que deveria ter-lhe contado antes, mas achava que não cabia a ele. Emanuel não teve o privilégio de tempo para poder questiona-lo ou irritar-se com o pobre doutor, ele simplesmente afogou seu rosto no ombro esquerdo de Bandeiras. As lágrimas desceram mais forte, mas ninguém se importava com isso. O novo coração era forte o suficiente para aguentar tudo isso – agora ele era forte.

– Eu ainda não disse que o amava... – resmungou ao pé do ouvido de Bandeiras, o deixando sem respostas. – A última coisa que eu fiz foi bater na sua nuca. – tudo o que saia da boca de Emanuel fazia a enfermeira em pé ao seu lado, sentir-se a vilã mais desprezível de todas. Não havia mais o que fazer a não ser consola-lo.

Acompanhe o livro:

Agradecimentos e Esclarecimentos

Capítulo I

Capítulo II

Capítulo III

Capítulo IV

Capítulo V

Capítulo VI

Capítulo VII

Capítulo VIII

Epílogo

 

Baixe o texto em pdf: clique aqui.

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