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Leitura: Proteja seu Coração - V

  • Gabriel Chico
  • 3 de out. de 2016
  • 6 min de leitura

A teoria de tudo

Autor: Sabrina de Ferreira


Publicação: Janeiro de 2016


Tema central: Drama, ação, filho adotivo e hospital


Páginas: 37


V


Christopher Depp, ainda sentado em seu veículo, esperando apenas o sinal de trânsito abrir e deixar todos aqueles carros seguirem para onde bem quisessem, notou estar com seus olhos lacrimosos. A fila de carros a sua frente era grande e aparentava ficar do mesmo modo por algum tempo ilimitado. Suas mãos apertavam firme o volante do automóvel, algo dentro de si dizia que aquele dia ainda não tinha acabado. Muitas coisas ruins ainda poderiam acontecer, não só como o trânsito parado ou... O celular de Depp tocou abafadamente ao seu lado, jogado ao banco. Após atender, a conversa com Ishmael foi rápida e dolorosa, pois nada faria Adias mudar de ideia e Christopher percebeu isso no telefonema.

“Alô?”

“Espero que tenha achado um advogado.”, rezou Ishmael. “Chegou o momento.”

“Não!”, o pânico estava na voz de Christopher. “Ainda está cedo, Ish.”

“Você sabe que não está.”, fez-se uma pausa. “Não importa como, ainda serei seu amigo.”, reconfortou-o.

“Não há advogado.”, inconsolável, Depp tentou achar uma desculpa para adiar tal insanidade. “Ainda está cedo!”

“Tchau Chris. Amo Você.”

“Não desliga! Ainda está c...”

O telefone-celular de Christopher Depp ficou mudo. Tudo o que Ishmael tinha para comunicar a seu melhor amigo, já havia sido dito. A respiração de Christopher estava ofegante. Com o celular ainda parado próximo ao seu ouvido direito, com sua outra mão pressionando o volante com força, Depp estava desolado. A primeira de muitas lágrimas desceu seu rosto até encontrar seu colo, o terno do mesmo começou a pinicá-lo agora. Um vazio antecipado cobriu seu coração de amargura e de uma tristeza inacabável. Ele sabia o que precisava fazer agora, só não estava disposto a continuar com a sua parcela de culpa gratuita que Ishmael o oferecera há tempos, para caso alguma eventualidade ruim, como está, acontecesse. Mas Chris sabia para onde deveria ir, para o hospital Albert Klein.

Senhor Meeiras, deitado em uma cama de hospital, apenas esperando o momento para receber uma visita de Ishmael ou até mesmo receber a notícia de que não precisara passar vinte e quatro horas deitado fitando uma parede branca e parda como a de sua sala do seu emprego fixo de policial. Mil vezes a sua sala do que uma sala de hospital, pensava Emanuel. Seu Pager, imaginou, está em cima de sua mesa de trabalho na delegacia. Algo que ele nunca se via longe, já que a todo instante sua esperança se reerguia na tentativa de vê-lo soar um barulho que o fizesse sorrir ao pensar que fosse um transplante de coração a caminho. Porém sua angústia de estar longe de seu Pager, iria cessar-se, já que o mesmo havia pedido um novo ao Doutor Bandeiras, somente por precaução.

De súbito, Dr. Bandeiras esticou a porta para dentro abrindo-a bem devagar. A voz do médico dizendo “Seu novo Pager, senhor Meeiras.” Foi ouvido por ele, que imediatamente sorriu sem amostrar os dentes. Agora com a cabeça um pouco alavancada, Emanuel esforçava-se para encontrar a melhor posição naquela cama dura e gélida. Bandeiras insinuou ajudá-lo, mas no mesmo momento, Meeiras pôs sua mão direita na direção de seu rosto, que estava uns metros longes, indicando saber fazer sozinho. Desfrutar da ajuda de terceiros para efetuar qualquer manobra corporal, era algo que o mesmo não suportava. Sendo ou não um paciente cardiopata degenerativo, ele ainda sentia prazer em exercer tudo sozinho.

– Licença. – disse uma voz conhecida para o pai adotivo de Ishmael. O homem, que aparentava ser bastante jovem para estar de terno e gravata a este horário do dia, tinha acabado de abrir a porta do quarto às pressas, como se algo muito importante ele estiver prestes a dizer. – Doutor Bandeiras?

Com um pouco de demora, Emanuel lembrou-se de quem se tratava, era Christopher Depp, um dos melhores amigos de seu filho... Filho? Sim, essa tinha sido a palavra que Meeiras usou em seu pensamento deixando o próprio um tanto pasmo, já que sempre foi “Ishmael” ou “Senhor Adias” para ele. Mas o fato era que, mesmo sendo o garoto adotivo que ele sempre notou estar na hora ou no lugar errado em sua vida, de qualquer modo, era o seu garoto adotivo. Pensando nisso, pôs um leve sorriso de educação no rosto e perguntou, somente para ter certeza.

– Depp... O que faz aqui?

– Olá, senhor. – acenou com a cabeça um pouco apreensivo como quem havia acabado de chorar.

– Menino, eu já havia lhe dito que quando fosse o momento eu ligaria para o filho do senhor Meeiras. – comentou o doutor um pouco impaciente com a visita inesperada. – Na verdade, eu iria ligar para ele logo que eu saísse daqui. Não precisava ter vindo. Sem contar que, não é horário de visita agora. Retire-se.

– Ishmael está ai? Quero vê-lo. – perguntou Meeiras, sem dar ouvidos ao doutor.

– Não... – saiu como um sussurro junto de uma lágrima enquanto o seu queixo tremia. Ver o brilho nos olhos de meu pai com expectativa na voz o fez ter vontade de lhe contar tudo agora mesmo, mas não era esse o combinado. – Doutor, por favor. – disse um pouco mais calmo, ignorando a lágrima solitária. – Venha comigo aqui fora.

Um pouco relutante, Dr. Bandeiras deixou a sua forte obstinação de lado e seguiu Christopher para o corredor branco do hospital Albert Klein. Do lado de fora, um homem em torno dos quarenta ou cinquenta anos de idade, com terno, gravata e sapatos completamente pretos. Magro, com dedos finos e pernas longas, possuía uma barba rala e bem feita que deixava o famoso doutor Bandeiras um pouco receoso com que ele poderia ter a lhe dizer. A garganta do advogado fez um barulho de limpeza automático quando, rapidamente, Christopher apresentou um ao outro. O advogado chamava-se Peter Van Bravo, que disse “Prazer” após limpar a garganta e apertar a mão de Bandeiras.

– Conte a ele por que estamos aqui. – pediu Depp.

– Temos um coração para o transplante do Senhor Meeiras e solicito a cirurgia de uma transplante imediato. – a voz de Van Bravo era grossa, rouca e profunda. Bandeiras quase riu de deboche.

– Não é assim, meu caro. Precisamos saber de quem é o coração, se um e outro tem sangues...

– O coração deve estar neste exato momento dando suas últimas batidas, sugiro que mande um pessoal para a Rua Santo Clemente, no Apartamento Gol Galos, número do quarto 2202.

Aquelas palavras, mesmo sendo ditas rápidas e sem nenhuma expressão no rosto de Peter Van Bravo, deram a Bandeiras a sensação de o mesmo não estar blefando. Respirou fundo e imaginou como eles tiveram tais informações. Eles mataram? O que deve ter ocorrido ao certo deixava Bandeiras um pouco desassossegado, mas se fosse verdade, ele deveria agir de imediato. Por um minuto, pensou nas consequências que iriam acontecer.

– Mesmo que chegássemos lá, o indivíduo morto deveria ter deixado algo que nos desse a certeza de que poderíamos abrir o seu corpo e tirar algo que definitivamente era dele. Isso se ele não for um menor de idade, pois então...

– Ishmael tem vinte e um anos de idade e deixou uma carta em cima da cômoda. – a frase saiu tão rápida da boca de Christopher Depp, que o mesmo teve a sensação de uma rápida dor de cabeça. Afirmar a morte de seu melhor amigo havia acabado de se tornar a pior coisa que o mesmo havia feito em sua vida.

– Ishmael? – perguntou o doutor, lembrando-se do nome ser muito parecido com o do filho do senhor Meeiras. Naquele instante, Bandeiras sentiu-se desrespeitado e, de certo modo, violado. A que ponto adultos-juvenil chegariam? Tudo não passara de uma má brincadeira dos mesmos com o médico impaciente de Emanuel, ele tinha certeza disso. – Como pode me provar isso, senhor Depp. – disse ele zombeteiro. – Estava lá?

– Não cheguei a tempo, doutor... – resmungou Christopher olhando para um ponto vazio entre os homens, lembrando-se exatamente de como tudo ocorreu. A negação de sua parcela de culpa gratuita, a chegada ao apartamento na tentativa de fazê-lo esquecer, a sensação de desamparo que sentiu ao ver tal cena na banheira de Annabeph, o sangue, o batimento do coração ainda forte em seu peito, a respiração interrompida pelo veneno letal de um animal marinho...

Acompanhe o livro:

Agradecimentos e Esclarecimentos

Capítulo I

Capítulo II

Capítulo III

Capítulo IV

Capítulo V

Capítulo VI

Capítulo VII

Capítulo VIII

Epílogo

 

Baixe o texto em pdf: clique aqui.

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