Leitura: Proteja seu Coração - IV
- Gabriel Chico
- 26 de set. de 2016
- 5 min de leitura

Autor: Sabrina de Ferreira
Publicação: Janeiro de 2016
Tema central: Drama, ação, filho adotivo e hospital
Páginas: 37
IV
Do lado de fora do carro, após decidir visitar o apartamento de sua namorada, ao em vez de seguir rumo a sua própria casa, vendo que o céu estava prestes a jorrar da chuva mais densa daquele mês, Ishmael refletiu sobre tudo que ocorreu com ele dentro de poucos dias naquele mesmo ano. Suas mãos persistiam em manterem-se frias dentro dos bolsos em seu casaco de lã cinza-azulado. As vozes ao seu redor de crianças gritando e rindo, com seus pais despreocupados e felizes, vindas do parque infantil em frente ao apartamento de Annabeph, deixaram a mente de Ishmael vazia. Seus pensamentos sumiram como toda a sua coragem de amparar seu pai. Era como uma vastidão escura de impotência e insegurança dentro de si crescendo.
Ao chegar à portaria do apartamento onde morava sua namorada, Annabeph Cartelano, que não era muito longe da sua própria casa, Adias viu o porteiro negro com seu cabelo afro oprimido pelo seu pequeno chapéu avermelhado do próprio apartamento. Passou por ele sem cumprimentá-lo, o que o deixou matutando sobre o que poderia ter acontecido. “O que houve, Carlos?”, perguntou o recepcionista para ele, um loiro dos olhos claros. “Nada.”, garantiu o porteiro com forte sotaque baiano. “Só é singular Ishmael não me cortejar antes de subir.”, observou ele, percebendo algo fora do eixo, mas apenas encarou Adias subir as escadas brancas, indo direto para o corredor vermelho-claro que dava a porta marrom da pequena casa de sua namorada.
– Annabeph? – perguntou ele antes e após fechar a porta. A senhorita Cartelano não se encontrava, mas as águas-vivas de estimação da mesma permaneciam inquietas dentro do grande aquário.
Ishmael direcionou seu corpo em direção à janela grande cinzenta, que se localizava entre a cama e a sofá de Annabeph. A visão que o mesmo tinha era de crianças felizes, gritando e rindo no parque à frente. Mães despreocupadas, pais risonhos e crianças agitadas. Uma lembrança repentina veio à mente de Adias. Sua namorada estava em seu apartamento, Ishmael permanecia no mesmo lugar que como agora admirava o mundo por detrás de uma janela. Annabeph o abraçou por trás, beijando seu ombro nu. Adias estava sem blusa, completamente confortável perto de uma namorada, que usava uma camisola curta e larga.
– O que está olhando? – perguntou ela.
A visão que banhava os olhos de Ishmael na recordação, era muito parecia com a que o mesmo via agora, como pais rindo de situações normais, como as crianças correrem e gritarem umas às outras sem motivos; mães despreocupadas já que aquela zona não possuía riscos de assaltos como nas outras regiões deste mesmo local. O ombro desnudo de Ishmael ainda era alvo de caricias de sua namorada, o cheiro do amor nauseante no ar deixava Adias com dor de cabeça.
– Procurando. – corrigiu-a. A rouquidão na voz de Ishmael aumentou quando pensou no que responder depois disto.
– Certo – Annabeph disse buscando paciência para compreender as interrogações de seu namorado complicado. –, o que está procurando, posso saber?
O vento vindo da janela o deixava com os sentidos mais aguçados de um modo que o mesmo não podia explicar. As crianças do outro lado da janela ainda gritavam, e dessa vez, uma viatura policial passou por de baixo dos mesmos, a alguns metros de distância fazendo Ishmael lembrar-se de seu pai. Sem prorrogas, anunciou em palavras curtas: “Uma razão”, deixando Annabeph pensativa sobre que tipo de razão poderia ser em meio às crianças no parque infantil bem à frente de seu apartamento alugado.
– Razão para que? – perguntou ela, tentando não sentir-se leiga.
– Para continuar respirando... – resmungou ele, observando a viatura virar a primeira esquina que apareceu a seu alcance.
Annabeph, sentindo o sarcasmo na voz de seu namorado, notou que o mesmo não exercia a ação de confessar-se a ela e lhe dizer o real motivo de permanecer tão pensativo e inquieto, como nunca havia ficado antes. Cartelano unicamente riu soltando um som agudo falso, o abraçando fortemente por trás, tirando o fôlego de Adias, que por sua vez, acariciou as mãos de sua amada.
– Eu sou a razão. – afirmou ela sem pestanejar.
Ishmael deixou que um sorriso ilusório preenchesse a sua boca com abundância, beijando a mão esquerda de Annabeph. Sua respiração foi voltando ao normal enquanto observava tudo da grande janela no quarto de sua namorada durante o tempo em que recordava este momento com a mesma. Respirando fundo, Adias reparou-se mais uma vez sozinho dentro daquele quarto. As águas-vivas dentro do grande aquário pareciam querer um pouco de atenção, no total eram três. Ampla e volumosa era assim cada uma delas. Agora sentado na cama de Annabeph ainda a sua espera, notou que as águas-vivas, com sua massa gelatinosa e transparente, eram belas as colorações rosadas com matizes purpúreos. A parte de cima das mesmas não queima, mas ao encostar-se em seus tentáculos, seu veneno é letal e a dor é intensa. Pensando nisso, Ishmael permaneceu sentado à cama lembrando de mais um dos momentos, para ser mais exato, o primeiro momento.
– Muda de canal, é sério. – insistiu Annabeph com uma voz enjoativa. Ambos estavam sentados no sofá assistindo a um filme a qual Adias esperava fortemente pelo final, Sete Vidas, com Will Smith.
A história o fascinava, já que na sua vida tudo era um pouco parecido. Na história do filme de dezembro de 2008, Tim Thomas, interpretado por Will Smith, é um homem que passa a sofrer de depressão depois de um acidente automobilístico do qual ele se permitir ser chamado de o único culpado, por causar a morte de sete pessoas. Para se redimir, ele decidiu salvar sete pessoas, o mesmo número de pessoas mortas no acidente. Faz-se, então, passar por Ben Thomas, seu irmão. Mas seus planos mudam ao conhecer Emily e apaixona-se por ela, mas infelizmente ela sofre de uma doença cardíaca degenerativa – como o pai de Ishmael –, porém isso não o impede de manter um romance com ela.
Após uma recaída no quadro clínico de Emily, Will Smith, sendo Tim Thomas, percebe que o momento ideal para realizar seu projeto seria naquele mesmo instante. Sua atitude foi fazer com que as pessoas eleitas por ele recebessem seus órgãos como uma espécie de presentes. Com isso, Tim Thomas suicida-se em sua banheira com águas-vivas, fazendo o seu coração parar de bater com os seus choques e seus venenos letais. Vendo agora passar os nomes dos produtores e todos aqueles que permaneceram atrás das câmeras, Ishmael teve uma ideia que só seria usada em último caso, uma proposta que faria a seu amigo, Christopher Depp, para o acontecimento de nenhuma das outras ideias realizarem-se, uma sugestão de uma possível saída para um problema, e então ele decidiu pôr em ação.
– Vamos comprar águas-vivas?
Acompanhe o livro:
Agradecimentos e Esclarecimentos
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Epílogo
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